Nasci em Buenos Aires e vivo em São Paulo desde os 8 anos, sem muitas interrupções. Quando havia feito 19, voltei a residir na terra do prata, por pouco tempo. Malogrado em meu retorno à terra mátria, refiz a malas após dois anos, e voltei pra terra da garoa.
Me sinto argentino, com tempero nacional brasileiro. Esta foi minha opção, ainda que sem tê-la – tinha 8 quando viemos ao Brasil para acompanhar os sonhos do pai em busca do ouro do milagre econômico que Delfim encabeçou na economia do apertura Geisel. Aliás, se temos algo que ver, entre nome e signatura, como é isto de Delfim mesmo ? Mais parecia um Rino, dizia minha criança, sem entender nada daquilo. Deixa aquilo pra lá, Pablo – não te pertence.
A Língua me pertence. Claro que esta preciosa parte do meu corpo, sem a qual nada seria para degustar as delícias que amigos em comunhão preparam, compartilham e inclusive se enganam para nutrir-se – não é ao que estou me referindo. A língua matriz é algo que preciosamente me pertence.
Me perguntam se me sinto argentino, já que nasci em Bs.As., e se carrego comigo todas estas colorações que venho conotando até agora sobre a nacionalidade.
A nacionalidade é condição estatal. Claro que muito somos a terra, seus costumes, suas tradições, estações climáticas proeminentes, em muitas condições que nos fazem sentir em casa. Somos o prato à mesa. Seus sabores, cores e aromas. Estes nos fazem deleitar as memórias mais caras e comuns, familiares.
Ainda assim, é a língua matrix que me faz sentir a mais rica sensação de ser alguém com sentimentos, percepções, de poder expressá-las segundo perspectiva – que me define como alguém de caráter nacional. Peraí, nacional de onde ? Depende. De quantas matrizes você foi formatado.
O português é para mim a escolha obediente, adolescente, cheia de percalços, dificuldades, ainda que tenha sido um bom rebelde. Só podemos nos rebelar àquilo que um dia obedecemos. Adoro suas pronuncias, doçuras, aquosas e fogosas aproximações, entre interjeições e improvisações. Em que as palavras são inventadas, como exemplifica o Grande Guima, O Rosa.
El castellano es para mi algo de mi infancia, de mis felices días en fantasia infinita. De mis paseos en bicicleta por las calles de aquel San isidro, calle Rivadavia. De los olores a gás que se perdia por las calles de Bs.As., calefones viejos de la vieja Buenos Aires.
Del abuelo Gainzarain, del fainá con fugazza, del rio de la plata y de las media lunas - grasa y manteca. Con un balde de café con leche.
O português é descritivo, observador e come-quieto (será que mineiro ?). O castelhano é sentimental, lírico e dramaticamente sutil.
Sou de dupla personalidade, graças a Deus. Sim, pois com duas línguas matrizes, temos personas diferentes para interagir. Recursos diferentes para a expressocrácia.
Ainda assim, o infante está sempre lá, guardado em nossos corações, pronto para ser usado em qualquer situação em que haja uma intenção clara de Aprender a Aprender. Sim, eles sabem como colocar a disposição aberta, absorver o máximo com o mínimo esforço, e praticar sem medo.
Guarde o seu infante, carinho e valor ele merece.