domingo, 29 de agosto de 2021

Eu, Zigoto

O primeiro passo foi de muita intensidade. O membro dele penetrou o canal e no cume da excitação despejou uma torrente veicular de núcleos enrrabichados pelo túnel, que vieram ao meu encontro. 

Eu, uma célula sem núcleo, puro fluído, cara metade e à espera daquele que chega sem aviso, fui expulsa do acasalamento do ovário que me abrigava, e fui lançada à uma trompa que os encarnados chamam de Falópio. Ali, quase morta, ainda esperançosa, fui interceptada por um escolhido – ninguém o escolheu senão ele mesmo, era um marciano guerreiro; que me penetrou como um núcleo, perdeu o rabicho e começou a se juntar aos meus tecidos. 

Começamos uma epopéia – a polaridade - e nos replicamos em múltiplas versões de nós mesmos, aliás, eram vários eus zigoto. Nem sequer pensávamos, mas existíamos, sim. 

E com memória tecida nas sensações mais profundas, eramos protegidos por uma carapaça fortaleza, gloriosa zona pelúcida, e rodávamos todos unidos num colchão de cabelos ciliares desse Falópio, que depois se tornou algo terrível.... apareceu uma queda quase infinita, que uma alma encarnada conhecedora dos perigos conheceria por uma queda de 20 andares. Nunca mais esquecemos dessa impressão violenta, expulsiva, que nos levou a outro acasalamento, 
agora aconchegante, o chamado Útero da Criação. Lá o percurso foi incrível, o replicante se tornou cada vez mais rápido, e éramos vários... a carapaça rompeu-se e nos acoplamos à uma das paredes do Útero Nave, e lá o crescimento foi intenso, infinito e multiplicado no tempo e 
espaço. 

Criou-se o espaço interno e o externo, saco vitelínico, e o Coração, maior que o resto de todos nós, ainda externo, com nossas polaridades inclinadas em direção à Ele, no centro, como num ato de submissão re-ligante.

 Demorou muito até que pudéssemos sequer começar a tomar corpo do que viríamos a ser, de uma espécie estranha que assola este planeta e apesar de ter todas as condições de conviver, explora seus recursos incansavelmente, trucida 
outras espécies e compete interracialmente, e se comporta como se fosse de uma espécie muito estúpida. Aqui estou eu, vários eus, estúpidos por natureza, observador pela graça que Ele nos deu. 

el paso doble - Manolete

El Paso Doble resonaba por la cabeza de Manolo. Manolete, o Manolito, como lo 
llamaban sus padres ó sus amantes, seguía dentro del vientre, imerso en  la noche anterior al desafio que tenia por delante, en la bestia herida que corneaba las maderas pré-espectáculo. 

Esa noche anterior Manolito se la había pasado de largo con su amante, después de haber bailado rico por algunas horas, y se entregó a una noche de amores y sudores con Juanita, entrelezados por una pasión animalezca de larga madrugada. 
Manolete estaba y no estaba entero en la arena, pues el baile y el amor de Juanita lo habían transformado y puesto en piel de gallina, emotivo de llorar por algunas veces en los rincones del goce, de descubrir un amor que ni de crianza siquiera se hubiera por recordar. 

La bestia herida y pura estaba furiosa a su lado, encerrada y bufando cada vez más, como si fuera dentro de su cabeza. Lo que el no conseguía realizar es que en algunos minutos habría de enfrentarla, en campo libre de la arena, para disfrute de los más de 50 mil vorazes y bestiales humanídeos que lo querían ver cruel y butal. 

Pero el estaba Manolito, y entonces escuchó el grito de su Juanita
- Te quiero mi Amor 
Y sus piernas temblaron de placer y sudor, un mixto de sensible temblor, parecido a los que había tenido cuando entrelazado estaba ayer entre sus muslos, sus brazos y pechos, y gozaba entre la ternura de la entrega y la carcajada del olvido. 
Fue cuando sintió que se mojaba todo, las dos piernas escurridas de urina, que le llegaba a los talones y sus medias – y la bestia seguía bufando, cuernos violentos en contra las maderas del 
curral. 

Se acordó de cuantas bestias había desafiado, cuantas había herido, y luego finalmente matado. Y se sintió un urinoherido, ahí, ácido en sus gambas mojadas. 

E inconscientemente decidió, entregándose al dolor y al temblor, mandarlo todo y todos de la 
arena al carajo. Y se desmayó, em medio a la suciedad en que estaba parado