O primeiro passo foi de muita intensidade. O membro dele penetrou o canal e no cume da excitação despejou uma torrente veicular de núcleos enrrabichados pelo túnel, que vieram ao meu encontro.
Eu, uma célula sem núcleo, puro fluído, cara metade e à espera daquele que chega sem aviso, fui expulsa do acasalamento do ovário que me abrigava, e fui lançada à uma trompa que os encarnados chamam de Falópio. Ali, quase morta, ainda esperançosa, fui interceptada por um escolhido – ninguém o escolheu senão ele mesmo, era um marciano guerreiro; que me penetrou como um núcleo, perdeu o rabicho e começou a se juntar aos meus tecidos.
Começamos uma epopéia – a polaridade - e nos replicamos em múltiplas versões de nós mesmos, aliás, eram vários eus zigoto. Nem sequer pensávamos, mas existíamos, sim.
E com memória tecida nas sensações mais profundas, eramos protegidos por uma carapaça fortaleza, gloriosa zona pelúcida, e rodávamos todos unidos num colchão de cabelos ciliares desse Falópio, que depois se tornou algo terrível.... apareceu uma queda quase infinita, que uma alma encarnada conhecedora dos perigos conheceria por uma queda de 20 andares. Nunca mais esquecemos dessa impressão violenta, expulsiva, que nos levou a outro acasalamento,
agora aconchegante, o chamado Útero da Criação. Lá o percurso foi incrível, o replicante se tornou cada vez mais rápido, e éramos vários... a carapaça rompeu-se e nos acoplamos à uma das paredes do Útero Nave, e lá o crescimento foi intenso, infinito e multiplicado no tempo e
espaço.
Criou-se o espaço interno e o externo, saco vitelínico, e o Coração, maior que o resto de todos nós, ainda externo, com nossas polaridades inclinadas em direção à Ele, no centro, como num ato de submissão re-ligante.
Demorou muito até que pudéssemos sequer começar a tomar corpo do que viríamos a ser, de uma espécie estranha que assola este planeta e apesar de ter todas as condições de conviver, explora seus recursos incansavelmente, trucida
outras espécies e compete interracialmente, e se comporta como se fosse de uma espécie muito estúpida. Aqui estou eu, vários eus, estúpidos por natureza, observador pela graça que Ele nos deu.